Do software fictício "Terra", descrito no romance Snow Crash, de Neal Stephenson, que inspiraria o Google Earth, até um conto sobre telefones inteligentes que pode ter levado à criação da internet, a leitura plantou sementes nas cabeças de inúmeros inovadores.
O ex-presidente dos Estados Unidos Barack Obama disse que a leitura o ensinou a ser quem ele é e no que acredita.
Mesmo que você não tenha ambições tão grandes, ler livros pode dar um impulso à sua carreira. Foi comprovado que o hábito pode reduzir o estresse, impulsionar o funcionamento do cérebro e até mesmo melhorar a empatia.
Isso sem mencionar os benefícios óbvios que todas as informações contidas em suas páginas podem trazer.
Confira abaixo um guia com os benefícios comprovados da leitura de livros - e saiba como se juntar ao clube de pessoas que fazem isso por pelo menos uma hora todos os dias.
Empatia
Seja empático. Embora o mundo dos negócios normalmente deixe de lado a inteligência emocional em detrimento de características como autoconfiança e capacidade de tomar decisões importantes, nos últimos anos a empatia tem sido amplamente considerada como uma habilidade importante.
De acordo com um estudo de 2016 da consultoria de recursos humanos Development Dimensions International, líderes mais empáticos tendem a ser 40% mais eficientes.
Em 2013, o psicólogo social David Kidd debruçou-se sobre quais atividades poderiam levar a uma maior empatia. "Como leitor de longa data, ocorreu-me que a ficção é um meio em que tradicionalmente nos envolvemos com as experiências únicas de outras pessoas", diz ele.
Junto com um colega da New School for Social Research em Nova York, Kidd decidiu investigar se a leitura pode melhorar a chamada teoria da mente - a capacidade de entender que temos pensamentos e desejos diferentes. Não é o mesmo que a empatia, mas acredita-se que as duas habilidades estejam intimamente ligadas.
Para isso, pediram aos participantes do estudo que lessem trechos de livros renomados da "ficção literária" - como Grandes Esperanças de Charles Dickens - ou ficção popular, como thrillers policiais e romances. Outros foram convidados a ler um livro de não-ficção ou não lerem nada. Posteriormente, os pesquisadores analisaram se a teoria da mente dos participantes havia melhorado.
A ideia era de que a escrita realmente "boa", como a de obras premiadas, tende a apresentar um mundo de personagens mais realistas, que facilita a imersão do leitor - uma espécie de campo de treinamento para aprimorar sua compreensão sobre outras pessoas.
Por outro lado, a dita ficção popular foi tirada de uma antologia, sem o mesmo endosso dos críticos. Os pesquisadores imaginavam que essa escrita provavelmente seria de baixa qualidade e talvez com personagens unidimensionais que agem de maneira mais previsível.
Os resultados foram impressionantes: os leitores da ficção literária endossada pelos críticos obtiveram as maiores pontuações em todos os testes comparados com aqueles que leram ficção popular, não-ficção ou nada.
E, embora os pesquisadores não tenham medido diretamente o impacto da teoria da mente no mundo real, Kidd diz ser praticamente certo chegar à conclusão de que os leitores regulares experimentam um crescimento de empatia. "A maioria das pessoas, se souber como os outros estão se sentindo, usará essa informação de maneira positiva."
Além de melhorar sua capacidade de se relacionar com colegas e subordinados, a empatia pode levar a reuniões e colaborações mais produtivas. "Existem pesquisas que mostram que pessoas tendem a ser mais produtivas em grupos nos quais se sentem livres para expressar discordância - especialmente em se tratando de tarefas criativas", diz Kidd. "Acho que é um exemplo de que uma maior sensibilidade e interesse nas experiências de outras pessoas podem ser úteis no local de trabalho."
Dicas de leitores ávidos
Agora que você talvez esteja mais convencido dos benefícios da leitura, lembre-se disso: de acordo com uma pesquisa de 2017 com 1.875 pessoas realizada pelo Ofcom, órgão regulador de mídia do Reino Unido, o adulto britânico gasta em média duas horas e 49 minutos no celular todos os dias. Para atingir a meta diária de uma hora com livros, a maioria das pessoas teria de reduzir o tempo de tela em um terço.
Assim, seja você um colecionador natural - o tipo de pessoa que gosta de acumular conhecimento em sua estante de livros na esperança de que um dia esse conteúdo se infiltre organicamente no seu cérebro - ou um exagerador presunçoso - o tipo de leitor que gosta de evangelizar sobre seus livros favoritos por horas, tendo apenas terminado a primeira página -, conheça algumas dicas de pessoas que podem se chamar orgulhosamente de leitores ávidos.
1 - Leia por querer, não por obrigação
Cristina Chipurici aprendeu a ler sozinha quando tinha quatro anos de idade. Quando foi tomada por sua nova paixão, ela diz ter devorado todos os livros na casa de seus pais. Mas, então, algo aconteceu. "Quando entrei para a escola primária e a leitura tornou-se obrigatória, desenvolvi uma repulsa por causa de um professor que tínhamos, e isso me fez não querer ler nunca mais", diz.
Além de melhorar sua capacidade de se relacionar com colegas e funcionários, a empatia pode levar a reuniões e colaborações mais produtivas.
Essa aversão aos livros durou até os 20 anos, quando Chipurici começou a se dar conta lentamente do que estava perdendo - aonde as pessoas que liam tinham chegado e todas as informações disponíveis nos livros que poderiam ter feito diferença em sua carreira.
Ela reaprendeu a amar a leitura e acabou criando o The CEO Library, um site sobre os livros que moldaram as carreiras das pessoas mais bem-sucedidas do mundo, de autores a políticos, passando por magnatas do investimento.
"Diversos fatores causaram essa mudança. Desde mentores, passando pela decisão de investir em um curso online no qual descobri um sistema educacional diferente, até ler os artigos do blog de Ryan Holiday (ele é autor de vários livros sobre a cultura de marketing e foi diretor de marketing da marca de moda American Apparel), em que sempre fala sobre como os livros o ajudaram, e provavelmente muitos outros fatores de que nem eu mesmo sei", diz Chipurici.
Se há uma moral nessa história, é ler porque você quer - e nunca permitir que isso se torne uma obrigação.
2 - Encontre um formato de leitura que funcione para você
Embora o estereótipo de um bibliófilo seja alguém que ande por aí com dezenas de livros de papel e cuide de suas cópias de primeira edição como se fossem preciosos artefatos antigos, não precisa ser sempre assim.
"Demoro duas horas para chegar ao trabalho", diz Kidd. "Não é o ideal, mas tenho muito tempo para ler." Quando está indo e voltando para o trabalho - não dirigindo! - ele descobriu ser muito mais conveniente ler em uma tela, como a de um celular, em vez de carregar um livro o tempo todo. Ao mesmo tempo, quando está lendo não-ficção, que tende a ser uma leitura mais desafiadora, diz preferir audiolivros.
3 - Não defina metas irreais
Acompanhar os hábitos dos CEOs pode ser uma tarefa intimidadora. Dois nomes proeminentes que foram entrevistados pela The CEO Library são Fabrice Grinda, um empreendedor de tecnologia francês que começou com US$ 100 mil (R$ 384 mil) de dívida de cartão de crédito e já ganhou mais de US$ 300 milhões vendendo sua participação em investimentos bem-sucedidos, e Naveen Jain, um empreendedor e filantropo indiano que fundou a Moon Express - uma startup do Vale do Silício que pretende explorar recursos naturais na Lua. O primeiro lê 100 livros por ano; o segundo gosta de acordar às quatro da manhã para ler livros por três horas.
Mas não precisa ser assim. Andra Zaharia é freelancer e trabalha com produção de conteúdo, tem um podcast e se define como uma leitora apaixonada. Sua principal dica é evitar expectativas irreais e metas impossíveis.
"Incorporar a leitura ao seu dia a dia, acho, é uma questão de começar de baixo", diz ela. Zaharia sugere começar perguntando aos amigos por recomendações de livros e lendo apenas uma ou duas páginas. "Você não precisa definir uma meta de 60 livros por ano. Os livros digitais, como no Kindle, podem ser mais fáceis na verdade, pois você não consegue ver o número de páginas restantes."
4 - Se você está realmente tendo dificuldade, tente a 'Regra de 50'
Essa regra geral vai ajudá-lo a decidir quando desistir de um livro. Se você está propenso a abandonar impiedosamente uma leitura na página quatro ou preso com volumes gigantes que aprendeu a odiar, a ideia é ler 50 páginas e depois decidir se o livro traz - nas palavras de Marie Kondo - "faíscas de alegria". Se isso não acontecer, desista.
A estratégia foi inventada pela autora, bibliotecária e crítica literária Nancy Pearl e explicada em seu livro Book Lust (Desejo de Livro, em tradução livre). A regra é a seguinte: se você tiver até 50 anos, leia as primeiras 50 páginas para decidir se vale a pena ou não continuar a leitura. Se você tiver mais do que 50, subtraia a sua idade de 100: o resultado será o número de páginas que você deve ler antes de desistir de um livro. Por exemplo: se você tiver 70 anos, foque nas 30 primeiras páginas.
A lógica de Pearl é de que, na medida em que envelhecemos, a vida se torna curta demais para ler livros ruins.
Deixar seu celular de lado por apenas uma hora por dia e substituir suas mensagens de texto por um livro podem aumentar seus níveis de empatia e torná-lo mais produtivo. Se as pessoas mais ocupadas e bem-sucedidas do mundo conseguem, você também pode.
Quem sabe o que você fará com todo esse conhecimento e inspiração extra? Você pode até acabar fundando sua própria empresa aeroespacial e enviando seu carro ao espaço.
Fonte: GORVETT, Zaria. Como cultivar um hábito de leitura diário. 2019. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/vert-cap-47532622. Acesso em: 15 fev. 2021.
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